domingo, julho 23, 2006

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"Enquanto adolescente, Luz María nunca conseguiu deixar de se sentir intrigada com a passividade do pai. Ele não se tornara amargo nem se rendera ao cinismo, apesar de lhe terem roubado as terras e a vida que ambicionara contruir com a certeza de quem sabia exactamente qual era a sua vocação.
- Se não tivesse sindo a revolução - disse uma vez Luz María, para lhe aplacar a fúria de uma revolta cada vez maior - não teria conhecido a tua mãe e tu não terias nascido. E não há nada mais importante para mim neste mundo do que a minha família.
- Sim - disse ela, irritada com o optimismo do pai - , mas ainda terias a tua fazenda e, provavelmente, estarias casado com outra mulher e terias outra família que amarias tanto como esta. E, como sabes, nenhum pai é capaz de distinguir o amor por um filho em relação ao irmão, por isso não importa se era eu ou outro qualquer, desde que fosse teu filho.
- Não concordo - contrariou-a. - Há muitos pais que se dão bem com um filho e nem sequer falam com o outro. A ti conheço-te bem, outro qualquer não sei como sairia.
- Isso é porque se afastaram por alguma circunstância infeliz. Mas, mesmo que estejam de relações cortadas, raramente um pai deixa de amar o seu filho.
Inabalável nas suas convicções juvenis, Luz María ainda não adquiria a maturidade suficiente para perceber a atitude do pai.
- Se um ladrão me roubasse e eu soubesse a sua identidade, não descansaria até o meter na prisão - disse, toda esganiçada, gritanto em voz baixa para que os vizinhos não a ouvissem. (...)
- E fazias bem - deu-lhe razão. Apagou o fósforo com um sopro de fumo e ficou de olhos postos na chama que transformou o charuto numa tocha efémera. - Fazias bem - repetiu, pensativo, a ver a chama extinguir-se. - Mas, por outro lado, se soubesses que ias desperdiçar a tua vida inteira a perseguir o ladrão e, se soubesses que tinhas pouca ou nenhuma esperança de reaver o que ele te roubara, então talvez reconsiderasses. Talvez pensasses que mais valia preocupares-te em ser feliz com o pouco que tivesses, do que seres infeliz por causa de uma cruzada condenada ao fracasso. Eu escolhi ser feliz."

Tiago Rebelo, Uma promessa de amor.

-/-/-/

Às vezes mais vale isso, deixarmo-nos de amarguras de coisas passadas. Pensar somente no futuro, e contar com aquilo que temos, não com aquilo que gostariamos de ter, pois aquilo que temos é o que importa.. e é com isso que temos de tentar ser felizes.

quinta-feira, julho 13, 2006

Palavras


Faz-me Bem

Há palavras que nos salvam
São palavras especiais
Que nos calam, nos embalam
Que nos tocam por demais.


Há que dize-las baixinho
Há que senti-las na voz
Que escutá-las com carinho
Que deixá-las p'lo beicinho.


Chega mais ao pé de mim
E repete por favor
As palavras que me faltam
diz-me assim.


Faz-me tão bem (faz-me tão bem)
Faz-me tão bem
Diz-me que me queres
Só a mim... mais ninguém!


Faz-me tão bem (faz-me tão bem)
Faz-me tão bem
Diz-me que me queres
Só a mim... mais ninguém!


As palavras pouco valem
Cada um diz o que quer
Mas que digam ou que calem
Ou que deixem por dizer.


Há palavras suicidas
Outras que calam a dor
Criminosas, compassivas
E as que morrem por amor.


Faz-me tão bem (faz-me tão bem)
Faz-me tão bem
Diz-me que me queres
Só a mim... mais ninguém!


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Palavras são palvras, meras palavras, tão simples e ao mesmo tempo tão complexo.. e mais não digo.